Nesta sexta-feira (7), o Rio de Janeiro celebra pela primeira vez o Dia de Zé Pelintra, uma das entidades mais queridas do Catimbó e da Umbanda. A data foi incluída no calendário oficial da cidade no ano passado, após a aprovação de um projeto de lei pela Câmara de Vereadores em setembro. A comemoração ao símbolo da malandragem e da boemia é considerada um importante reforço na luta contra a intolerância religiosa.
Ao longo do dia, o Santuário de Zé Pelintra e Maria Navalha, localizado nos Arcos da Lapa, no Centro, realizará celebrações e ações sociais para a população em situação de rua e vulnerável. O diretor social e cultural, Fábio Feliciano, destaca que serão oferecidos serviços de orientação para emissão de documentos em parceria com a Fundação Leão XII, testes de HIV, balcão de empregos, arrecadação de agasalhos e alimentos. Além disso, estão programadas rodas de conversa sobre a cultura da malandragem e a história da entidade, apresentações da escola de samba Acadêmicos do Dendê, rodas de samba e maracatu, desfile de moda afro e trans, entre outras atividades.
“A nossa luta é para desvincular Zé Pelintra desse termo pejorativo de marginalidade e boemia. Ele foi marginalizado porque, na época, o samba, a capoeira e os negros eram perseguidos, mas Zé Pelintra é amor, é caridade. Ele valoriza a parte social, e nós, da diretoria do santuário, mesmo durante os festejos, sempre buscamos realizar essas ações sociais. Zé Pelintra acolhe todas as categorias, classes e gêneros. Ele se preocupa com a humanidade e com a união do povo. Estamos muito felizes e sentimos essa energia aqui, pois além dos festejos, estamos ajudando ao próximo, algo que Zé Pelintra nos ensina e que procuramos colocar em prática”, ressalta o diretor.
O músico Rafael Soares, de 33 anos, vocalista dos blocos Areia do Leblon e Vagalume, visitou o santuário na sexta-feira e expressou sua emoção ao comemorar a data. Ele conta que Zé Pelintra sempre fez parte de sua vida, tanto religiosa quanto profissional, pois sua entrada na música ocorreu depois de frequentar casas de Umbanda. Como forma de demonstrar sua devoção, ele tatuou a imagem da entidade em seu antebraço há três dias.
“Seu Zé é um guia de extrema luz para mim, ele me ajuda muito no meu dia a dia. Eu peço sua ajuda e proteção em tudo o que faço, para mim e para as pessoas que amo, e ele sempre me abençoa. Ele é tudo, é um guia que está sempre comigo. Como sou músico, da noite, da boemia, do samba, Seu Zé está sempre presente. Fiz essa tatuagem pela importância dele na minha vida. Minha iniciação na música ocorreu nas casas de Umbanda, onde eu ouvia os tambores e tocava. Foi assim que comecei minha carreira na música”, declara Rafael.
A cantora Mônica Sueli de Souza, de 58 anos, mineira, está no Rio para realizar shows até o próximo domingo e aproveitou a oportunidade para visitar o santuário.
“Seu Zé, na Umbanda, é meu padrinho, meu conselheiro e protetor dos meus shows. Sou cantora e não começo um show sem pedir sua bênção e proteção, assim como do povo da Rua. Certa vez, estava rouca e já havia desistido de cantar, quando vi um homem sambando no salão de vermelho e branco. Pedi a orientação de Seu Zé para que minha voz voltasse. Consegui fazer 40 minutos de show e fui aplaudida”, relembra.
A cantora Margarete Mendes, conhecida como “Negona do Axé”, ficou famosa na boemia carioca por suas apresentações com um bailarino interpretando Zé Pelintra. A artista afirma que sempre sonhou em cantar nos palcos da Lapa, reduto da boemia e do samba, e atribui seu sucesso e seus mais de 30 anos de carreira à entidade. Segundo ela, todas as suas performances são dedicadas a Seu Zé.
“Seu Zé é tudo para mim na religião, é minha fonte de confiança e fé. Sou grata a todos os Orixás, Exus e a Seu Zé por tudo que tenho, conquistei e acreditei. É algo que vem de dentro para fora, é algo muito poderoso. Seu Zé é sábio e eu o amo, sou suspeita para falar. Pedi a ele pela Lapa, que é meu reduto, e ele me atendeu. Tenho 30 anos cantando na Lapa. A Lapa é tudo para mim, pois foi ele quem me deu tudo isso, ele me sustenta. Canto em vários lugares, mas nunca saio da Lapa”, declara Margarete, que espera que essa data seja apenas mais um dia na luta diária contra a intolerância religiosa.