Ambientalistas e comunidades locais temem os impactos ambientais e sociais do megaempreendimento Projeto Raia no pré-sal da Bacia de Campos
A Região dos Lagos, famosa por suas belezas naturais e economia baseada no turismo e na pesca, vive um crescente clima de incerteza com a proposta de implantação do “Projeto Raia”, um dos maiores empreendimentos de exploração de gás natural no Brasil. Localizado no pré-sal da Bacia de Campos, a aproximadamente 175 km de Armação dos Búzios, o projeto, com previsão de iniciar em 2028, promete gerar uma produção significativa de gás natural, mas levanta sérias preocupações entre ambientalistas, pescadores e comunidades tradicionais da região.
O consórcio formado pelas empresas Equinor, Repsol Sinopec Brasil e Petrobras planeja investir US$ 9 bilhões na exploração de mais de 1 bilhão de barris de petróleo equivalente, com grande foco na produção de gás natural. A estrutura flutuante de produção e armazenamento projetada para o empreendimento tem capacidade para processar até 16 milhões de metros cúbicos de gás por dia, o que representa uma parte substancial da demanda nacional. No entanto, os potenciais riscos ambientais associados a essa exploração têm sido foco de intensos debates.
Durante as audiências públicas realizadas em Búzios e Macaé, líderes comunitários e especialistas expressaram suas preocupações. O secretário de Ambiente e Urbanismo de Búzios, Evanildo Nascimento, destacou a fragilidade da economia local, que depende diretamente do mar para atividades como o turismo e a pesca. Para ele, qualquer incidente ambiental, como o que ocorreu no Golfo do México com a plataforma Deepwater Horizon, poderia ter consequências irreversíveis para o ecossistema da região, impactando tanto o meio ambiente quanto os meios de vida das comunidades pesqueiras.
A Colônia de Pescadores Z4, de Cabo Frio, também se mostrou preocupada com o impacto das ondas sonoras geradas pela escavação de poços submarinos. Alexandre Marques, representante da entidade, questionou a ausência de ações compensatórias e medidas de mitigação para os pescadores locais, que dependem diretamente da saúde dos oceanos para sua sobrevivência econômica.
Além dos pescadores, comunidades tradicionais, como o quilombo de Baía Formosa, também expressaram temores. Lucinéia dos Santos, representante local, lembrou os possíveis danos a longo prazo, com vazamentos de petróleo ou gás impactando a fauna marinha e a população local por décadas. “Estamos falando de um projeto que pode afetar nossa região por até 30 anos. O medo é real”, afirmou.
O Instituto Tiê Sangue, ao analisar o Estudo de Impacto Ambiental (EIA/RIMA) do Projeto Raia, também apontou fragilidades nas metodologias utilizadas, questionando a generalização dos impactos e a falta de detalhamento das ameaças para a região dos Lagos. Para movimentos sociais locais, o empreendimento representa um risco iminente de transformação da área em uma “zona de sacrifício”, onde comunidades vulneráveis, como pescadores e quilombolas, ficariam expostas a danos ambientais irreparáveis.
Outro ponto de atenção é o histórico da Equinor, uma das empresas responsáveis pelo projeto. A companhia já foi responsabilizada por vazamentos de petróleo no Mar do Norte, o que levanta preocupações adicionais sobre sua capacidade de operar de forma segura em território brasileiro.
Com o aumento das críticas e o crescente apoio de movimentos sociais e representantes comunitários, novas audiências públicas foram solicitadas, além de representações aos Ministérios Públicos Estadual e Federal.