Parentes rompem o silêncio para tentar inocentar o médico Walter Rau, mas informações obtidas com exclusividade revelam que pai e filho podem ter atuado em conjunto
A família do cardiologista Walter Rau da Silva Vieira, preso na última terça-feira (29) em Arraial do Cabo por maus-tratos a animais, rompeu o silêncio e decidiu se manifestar. Em depoimento exclusivo ao Lagos Informa, a neta do médico, Mayara Vieira Leite, afirma que o avô está sendo injustamente acusado e que tudo o que levou à prisão foi forjado pelo próprio filho do médico, Walter Rau da Silva Vieira Júnior, com quem a vítima tinha um histórico conturbado e repleto de abusos psicológicos e financeiros.
“Tenho provas de que tudo foi armado. Tenho áudios do filho dele dizendo que destruiria meu avô, que tiraria o CRM dele, que acabaria com tudo. Ele fez isso por vingança, por controle, por dinheiro. Meu avô não é esse monstro que estão pintando nas redes sociais”, declarou Mayara, emocionada.
Segundo a neta, o médico é vítima de um plano cruel, orquestrado por alguém que, segundo ela, tem um histórico criminal extenso — que inclui denúncias por violência doméstica (Lei Maria da Penha), tráfico de drogas e comércio ilegal de anabolizantes.
“Esse filho dele tem mais de 18 processos na Justiça. É uma pessoa instável, agressiva, manipuladora. Eu mesma morei com ele por alguns meses em 2023, na mesma casa onde os animais estavam, e sei o que meu avô passou. Tortura psicológica, ameaças diárias, chantagens… ele dominava tudo ali dentro.”
“O plano era destruir o próprio pai”, diz a neta
De acordo com Mayara, o filho do médico controlava as finanças do pai há anos, usando esse domínio como forma de chantagem e manipulação. Ela afirma que ele chegou a abrir contas bancárias no nome do avô sem autorização, movimentar valores do trabalho do cardiologista e desviar cerca de R$ 70 mil.
“Ele esvaziou as contas do meu avô, controlava o dinheiro todo. Quando meu avô começou a questionar, vieram as ameaças. Disse que, se não tivesse mais acesso ao dinheiro, acabaria com a vida e a carreira dele. E cumpriu.”
Ainda segundo ela, o filho chegou a gravar vídeos e montar cenas com os animais para sustentar a acusação de maus-tratos. Mayara afirma que, apesar da simplicidade do local, havia cuidado com os bichos. Ela diz ter fotos, vídeos e mensagens que demonstram a relação afetuosa entre o médico e os animais.
“Quem conhece meu avô sabe o amor que ele tem pelos bichos. Ele cuidava deles, era a paixão da vida dele. As pessoas estão julgando baseadas em uma cena que foi manipulada. Ele sempre zelou pela medicina e pelos animais.”
“Ele ameaçava todo mundo”, afirma Mayara
Mayara relata que também foi vítima do comportamento violento do tio. Durante o período em que morou na residência onde os animais foram encontrados, na rua Pedro Álvares Cabral, em Monte Alto, ela diz ter sofrido tortura psicológica constante, ao lado do avô.
“Ele me ameaçava dia e noite. Dizia que se eu defendesse meu avô, ele acabaria comigo também. Me ligava alterado, às vezes drogado, dizendo que ia destruir o pai, que ia fazer escândalo, que acabaria com tudo. No dia seguinte, fingia que estava tudo bem. É um ciclo de abuso.”
Ela compartilhou com a reportagem áudios e mensagens com conteúdo perturbador, onde o filho do médico detalha suas intenções de arruinar a imagem e a carreira do pai, incluindo frases como: “Se ele não fizer o que eu quero, eu acabo com ele, com os cachorros e com o CRM dele”.
Além disso, confirmou à reportagem o histórico de agressões psicológicas e abusos financeiros sofridos por Walter Rau:
“O Walter Júnior é da pior espécie. Roubou todo o dinheiro do pai, abriu contas em nome dele, deixou ele sem um centavo. Isso já vinha acontecendo há muito tempo. O Walter Rau foi investigando, descobriu tudo, e por isso o filho resolveu agir. Ele armou tudo, está claro.”
“Meu avô não é o que estão dizendo”
Para a família, Walter Rau é vítima de uma inversão cruel de papéis. Médicos, pacientes e moradores de Arraial que conheciam o cardiologista têm se mostrado chocados com a repercussão do caso. A neta reforça que o médico não é culpado do que está sendo acusado.
“As pessoas precisam saber a verdade. Meu avô é um homem bom. Tem falhas, claro, como qualquer um, mas não maltratava os animais. Ele foi enganado, manipulado, sugado por alguém em quem confiava. O que estão fazendo com ele agora é injusto.”
Mayara pretende colaborar com a defesa do avô e buscar responsabilização criminal contra o tio.
“Ele merece pagar, não meu avô. A Justiça precisa olhar pra isso com atenção. Não é só sobre maus-tratos, é sobre perseguição, roubo, abuso familiar.”
A Polícia Civil ainda não se manifestou sobre as alegações envolvendo Walter Júnior.
Investigações apontam para cumplicidade entre pai e filho
Apesar das acusações feitas por Mayara, fontes próximas à investigação confirmaram ao Lagos Informa que há indícios consistentes de que pai e filho atuavam juntos nos maus-tratos. A apuração aponta que ambos tinham conhecimento da situação degradante em que os animais viviam e que a negligência não seria obra de apenas uma pessoa.
Os dois residiam no imóvel da rua Pedro Álvares Cabral, onde a operação foi realizada. Fezes espalhadas, ração azeda, comida em decomposição e cadáveres de cães e gatos armazenados em um freezer foram encontrados no local. Os agentes classificaram a cena como “estarrecedora”.
“Há fortes indícios de coautoria. Um agia com descaso, o outro explorava isso para manipular, ameaçar e chantagear”, disse uma fonte da Polícia Civil.
Relembre o caso
O cardiologista Walter Rau da Silva Vieira foi preso na última terça-feira (29) por agentes da Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente (DPMA) com apoio da polícia de Arraial do Cabo. A denúncia partiu de vídeos enviados por uma testemunha, onde o médico aparece arrastando um cão pelo chão.
Na casa onde ele morava, no distrito de Monte Alto, foram encontrados cães e gatos em situação de abandono, visivelmente magros, sem acesso a água ou alimento adequado, vivendo entre fezes e urina. Pelo menos 11 animais foram resgatados vivos, e outros cinco encontrados mortos, armazenados em um freezer doméstico.
O médico foi autuado com base no §1º-A do artigo 32 da Lei nº 9.605/1998, que trata de maus-tratos contra cães e gatos — crime cuja pena pode chegar a cinco anos de reclusão, além de multa e proibição de guarda de animais.