OPINIÃO: Enquanto o Lady Christine, um iate de 68 metros, avaliado em milhões de libras, desliza suavemente pelas águas cristalinas de Búzios, trazendo consigo o bilionário escocês Irvine Laidlaw e sua entourage de luxo, a vizinha Cabo Frio vive uma realidade bem diferente no turismo. No TOT da cidade, filas de turistas brasileiros, em sua maioria advindos da Baixada Fluminense e Juiz de Fora desembarcam com estoques de cerveja barata, pacotes de água mineral e isopores de dar inveja ao mais criativo camelô.
Não há helipontos ou cabines luxuosas em Cabo Frio. O “luxo” é atravessar as lotadas praias da cidade com suas sacolas recheadas de quentinhas, garantindo o abastecimento para um dia inteiro de sol. A cena já virou tradição e rende boas risadas (para uns) e muitas reclamações (para outros). Turismo popular? Com certeza. Rentável para o município? Fica a dúvida.
E se Búzios ostenta um apelo internacional digno de capas de revista, Arraial do Cabo não fica atrás no quesito emoção – mas por motivos bem diferentes. Nas praias e nos pontos de embarque para passeios de barco, o clima é de adrenalina constante, com empurra-empurra, discussões acaloradas e até trocas de socos. A experiência, embora nada luxuosa, certamente oferece uma dose extra de emoção para quem busca algo mais “autêntico”.
A dicotomia da Região dos Lagos é evidente. De um lado, o turismo milionário de Búzios, com barões escoceses descansando em suas embarcações cinematográficas, reforçando a reputação do balneário como um destino para poucos. Do outro, Cabo Frio e Arraial, onde a experiência é mais democrática – e muitas vezes caótica –, mas igualmente marcante à sua maneira.
Talvez o verdadeiro charme da região esteja justamente nisso: um mosaico de realidades que, entre o luxo e a simplicidade, cria histórias e memórias para todos os gostos. Afinal, nem todo mundo tem um iate chamado Lady Christine, mas quem nunca improvisou uma “geladeirinha” para curtir a praia?