Armação dos Búzios, localizada na Região dos Lagos, no Rio de Janeiro, é um município que abriga um tesouro geológico incomparável: rochas africanas com mais de 2 bilhões de anos, que se tornaram uma importante descoberta da geóloga Kátia Mansur. Essas rochas foram separadas vulcanicamente há 130 milhões de anos, deixando uma parte do que chamou de “África geológica” em Armação dos Búzios e, justamente, no Quilombo da Baía Formosa, que recebeu africanos escravizados no período colonial.
A descoberta foi noticiada no site da Prefeitura de Armação dos Búzios no dia 15 de fevereiro, e desde então, a importância do patrimônio tem sido cada vez mais difundida. Luiz Romano de Souza Lorenzi, Secretário de Cultura e Patrimônio Histórico do município, tratou de buscar apoio para a proteção da descoberta junto ao Governo do Estado, através do Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (INEPAC).
Para o INEPAC, o momento é de comemoração. A proteção das rochas africanas representa um grande avanço nas políticas de preservação da geologia e da cultura afrodescendente, iniciadas na década de 1980 com a proteção da Pedra do Sal, a pedido de Joel Rufino. Desde então, o INEPAC tem trabalhado arduamente para preservar a memória e a cultura afrodescendente em todo o estado do Rio de Janeiro. Em 2016, o terreiro de candomblé Ilê Axé Opó Afonjá, em São João de Meriti, foi tombado a pedido do Frei Tatá e da Mãe Regina, recuperando seu legado.
A proteção das rochas africanas encontradas em Armação dos Búzios representa mais um importante capítulo na história do INEPAC e do estado do Rio de Janeiro. A diretora geral do instituto, Ana Cristina Carvalho, destacou a importância do achado geológico e do seu tombamento:
É uma descoberta importante, que se dá num contexto cheio de simbolismos. E para o INEPAC é uma honra fortalecer as políticas de preservação da geologia e da cultura afrodescendente. E agora vai novamente revolucionar com o tombamento desse achado geológico fantástico feito pela Prof. Kátia Mansur.
Entendendo a oportunidade e a urgência da proteção, o Secretário Luiz Romano de Souza Lorenzi prontamente redigiu o pedido de tombamento da rocha, que é um registro que a África deixou em Búzios quando da separação dos continentes. O registro é um patrimônio geológico incomparável e, tão importante ou mais que a descoberta geológica, é o que ela representa para a comunidade tradicional que ocupa esse território de forma secular.
É muito provável que o Quilombo da Baía Formosa seja o único quilombo do Brasil que tenha um fragmento geológico da África nele, e entende-se que isso seja um fato muito representativo para todas as comunidades quilombolas do Brasil.